HOSPITAL DE CÂNCER DE BARRETOS - FUNDAÇÃO PIO XII
HOSPITAL SÃO JUDAS TADEU - O Hospital do Amor
Este é um post que eu jamais imaginei que um dia faria, mas não posso deixar de registrar, ainda que tão doloroso para mim.
Há cerca de um mês meu paizinho faleceu em decorrência de um câncer, inicialmente diagnosticado na próstata, e posteriormente com a formação de novas lesões tumorais no fígado e na coluna, a tão temida
metástase.
Hoje faz exatamente um mês de sua morte.
Um mês atrás, quando a enfermeira disse que ele estava com apneia, e eu num surto desesperado pedindo para colocarem mais oxigênio, quando ela, delicadamente e com muito respeito e amor me disse que ele estava falecendo...e ficou ao nosso lado, com muita compaixão e muito carinho (um parêntese...o paciente em cuidado paliativo, em determinada perspectiva, quando apresenta sinais de falência em algum órgão, não é reanimado. Fiquei chocada ao saber a princípio, mas depois entendi que esse procedimento é muito digno em não prolongar o sofrimento do doente)
E meu pai faleceu.
É uma situação inenarrável. Ainda que você saiba que irá acontecer, o chão some dos seus pés....
Mas meu post na verdade não é para falar de tristeza, mas sim de AMOR.
AMOR que senti (e sinto) loucamente pelo meu pai em todos os dias da minha vida e além dela.
AMOR que meu pai espalhou pelos quatro cantos,
cantando e encantando com sua voz linda e sua simpatia.
AMOR que vivi nos últimos 15 dias de vida do meu pai, ao seu lado, 24 horas por dia. O amor incondicional, que só pais e filhos trocam. Cada risada, cada declaração, cada revelação, cada birra...cada carinho, tudo com doses cavalares de afeto, cumplicidade e amizade que sempre tivemos um com o outro.
AMOR que recebi dos amigos verdadeiros (e que estiveram ao nosso lado até o momento em que entrei no carro funerário pra fazer o traslado do corpo até SP onde a família nos esperava)
Tapete da entrada do Hospital
O
Hospital São Judas Tadeu, é uma unidade da
Fundação Pio XII, do qual são encaminhados os pacientes que passaram por rigorosa avaliação do Centros de Intercorrência, Clínico, Cirúrgico e Médico, Radioterapia, Quimioterapia e Ambulatório da Fundação, cujo tratamento no combate ao câncer já não trará mais melhora ao paciente, e cujo objetivo é exclusivamente tratar pacientes em cuidados paliativos.
Eu até então, desconhecia o termo "cuidado paliativo".
O alívio do sofrimento, a compaixão pelo doente e seus familiares, o controle impecável dos sintomas e da dor, a busca pela autonomia e pela manutenção de uma vida ativa enquanto ela durar: esses são alguns dos princípios dos Cuidados Paliativos.
Os Cuidados Paliativos foram definidos pela Organização Mundial de Saúde em 2002 como uma abordagem ou tratamento que melhora a qualidade de vida de pacientes e familiares diante de doenças que ameacem a continuidade da vida.
O tratamento em Cuidados Paliativos deve reunir as habilidades de uma equipe multiprofissional para ajudar o paciente a adaptar-se às mudanças de vida impostas pela doença, e promover a reflexão necessária para o enfrentamento desta condição de ameaça à vida para pacientes e familiares.
Para este trabalho ser realizado é necessário uma equipe mínima, composta por: um médico, uma enfermeira, uma psicóloga, uma assistente social e pelo menos um profissional da área da reabilitação (a ser definido conforme a necessidade do paciente). Todos devidamente treinados na filosofia e prática da paliação.
Fonte: Academia Nacional de Cuidados Paliativos
Mas vou traduzir com minhas palavras e vivência.
O cuidado paliativo do
Hospital São Judas Tadeu, é simplesmente
IMPECÁVEL.
A forma como meu pai foi cuidado e eu, foi incrível.
Traduzindo em uma única palavra eu diria que DIGNIDADE define.
Todos os profissionais envolvidos, desde a médica Dra. Katia que foi sempre de uma generosidade e uma delicadeza extrema, os técnicos, enfermeiras-chefe, nutricionista, psicologa, fisioterapeuta, musicoterapeuta, dentista, assistente social, até as meninas que limpavam o quarto, as que vinham trazer comida (que aliás diga-se de passagem era muito saborosa e era servida para quantas pessoas estivessem no quarto no momento) ou a senhora que coordenava o pessoal da cozinha, que me atendia com toda simpatia e solicitude quando meu pai queria comer algo diferente, quando ele ainda comia, ainda que quase nada.
Certo dia, meu pai não queria mais comer nada, eu nem pedi nada, mas na hora do jantar, trouxeram três 'marmitex' com tudo que ele havia pedido de diferente nos últimos dias, para ver se ele queria comer algo...fiquei de queixo caído com a atenção no tratamento particular para cada paciente.
Se meu pai não comia, a nutricionista vinha pessoalmente perguntar o que poderia fazer para ele comer, algum prato em especial...
Sim, lá o paciente escolhe o que quer comer, o que beber...o paciente é tratado como o ator principal...o "astro do filme".
As visitas eram liberadas. É como uma espécie de "despedida" para alguns, então não há restrição de número de visitantes, e o horário estende-se até as 21h.
Diariamente a fisioterapeuta passava para fazer alguns exercícios com ele, duas vezes na semana vinha o dentista.
As meninas da enfermagem eram muito amorosas e faziam a maior festa com meu pai, sobretudo na hora do banho, era muita risada e ele entrava no clima.
A sensação que se tem, é de estar num hotel de luxo, literalmente. O cuidado e o tratamento dispensado não só com meu pai, mas comigo era surreal (e tudo subsidiado pelo SUS e a ajuda da comunidade, artistas e a participação financeira governamental)
Logo que cheguei, tive uma conversa de gente grande com a médica Dra. Katia, que foi super delicada em me informar sobre o quadro gravíssimo do meu pai. Em seguida, veio a assistente social, assegurar que eu estava bem instalada, se precisaria lavar minhas roupas, se viria mais alguém da família para me acompanhar, enfim...um cuidado impar.
Espaço Convivência
Um lugar agradável onde é servido café, chás, suco, frutas, pães, para todo o quadro e acompanhantes, que também fazem as refeições, ou até mesmo conversar com os médicos ou outro profissional longe do paciente, ou apenas relaxar
Passando esse primeiro momento de notícias não boas, mas que me foram transmitidas com total delicadeza e humanismo, foi a vez da psicóloga.
Eu recebia a visita diária da psicóloga para saber como eu Ana, estava lidando com a situação, e me falava a todo momento para eu estar preparada para o futuro breve, mas sobretudo elogiava minha postura com meu pai, pois eu me mantive o mais forte possível na frente dele: não chorava, não lamentava, só o amava....e isso foi incrivelmente essencial para eu ter forças para continuar firme, mesmo sabendo que os dias estavam contados...
Quando meu pai, a certa altura não deixava eu sair de perto dele, e não podíamos conversar a sós, ela ficava ao meu lado, e me observava fazendo massagem nele, e me dizia como era importante esse toque para ele, do quanto ele sentia-se seguro.....e ela fazia um afago no meu braço, me olhava com satisfação, e isso era um alento maior do mundo...
Existe até um Assistente Espiritual, que tem o cuidado em saber qual a religião do paciente e acompanhante. No nosso caso, eu e papis somos católicos, e todos os dias passava uma senhora convidando a participar da missa e o padre veio algumas vezes visitá-lo.
Capela São Judas Tadeu
Quando Dra. Katia respondeu a uma pergunta do meu pai, se era grave o resultado de um exame, e ela confirmou que sim, que era muito grave, em seguida tomou a mão dele e perguntou a religião dele, e foi tão carinhoso, me emocionei com esse gesto, ela pedindo para meu pai rezar com ela, pedir ao anjo da guarda para estar ao lado dele, para que Papai do Céu guiasse o que fosse melhor para todos, para ele, para ela, para mim, fez uma prece linda, isso me fez amar mais ainda toda a estrutura, e agradecer a Deus por meu pai estar tão bem cuidado em todos os aspectos.
Todos os quartos possuem frigobar, ar condicionado, tv, e um sofá que vira cama...ficamos super bem acomodados
...além de uma varanda linda e agradável....
Geralmente os visitantes ficam na varanda para não ficar muita gente no quarto....
Quando paizinho dormia, eu ficava na varanda fofocando com minha flor Celena, com a família e amigos no face... mas ficava de olho nele ao mesmo tempo....
Um outro cuidado: quando cheguei e a enfermeira reparou que eu trouxe o notebook, prontamente me informou a senha do wi-fi do hospital...achei fofo, pois cheguei a levar até um modem 3G e nem usei...
Recebemos a visita dos Doutores da Alegria, que na minha equivocada visão era tão somente para alegrar as crianças, e foi tão bacana e tão importante naquele dia.... e foi algo apaixonante para mim.
Meu pai na ocasião contou uma piada musical e foi muito bacana.
Um outro dia eles voltaram e cantaram com ele, foi um momento de alegria.
A Midi (à direita) foi tão querida, que nos adicionamos no Facebook, e quando ela soube da morte do meu pai, foi ao velório e ao enterro, com o esposo (o moço do violão). Isso significou tanto pra mim, que fiquei toda orgulhosa, não só pelo trabalho lindo que eles desenvolvem, mas pelo ser humano impar que eles são.
Enfim, o que posso dizer sobre o
Hospital de Câncer de Barretos, a Fundação Pio XII, é que, sempre assistimos na mídia o quão maravilhosa é toda a estrutura, mas eu, assim como todos que um dia passaram por lá e tiveram a oportunidade de usufruir, ficam encantados e maravilhados com tanta generosidade e amor com que os profissionais trabalham.
Toda atmosfera do
São Judas é ladeada de amor, compaixão e sobretudo empatia, até quando esbarramos com outros acompanhantes no corredor, a troca de olhares em milésimos de segundos é carregada de amor e de uma cumplicidade incrível.
Agradeço a Deus por meu pai ter passado os últimos dias de vida de forma tão digna, sendo tão bem cuidado, e sem o mínimo de dor.
Costumo comentar com as pessoas mais íntimas, que se existe 'Céu', o
São Judas é a ante-sala.... porque o AMOR desse lugar é o princípio fundamental acima de qualquer coisa.
...
Meu pai chegou a comentar comigo, que quando saísse do hospital, faria um show com toda renda revertida para a
Fundação Pio XII.
Infelizmente ele não pode realizar esse desejo, e eu, em agradecimento e reconhecimento, levantarei sempre a bandeira para que todos, inclusive eu, possamos ajudar a
Fundação, para que possam atender mais e mais pacientes com essa doença.
Para conhecer os sistemas de doação, clique
AQUI
Lembrando que esse mês de outubro inicia-se a campanha Outubro Rosa, dedicado exclusivamente à prevenção do Câncer de Mama.... clique na imagem pra maiores informações.
Dedico esse post ao meu pai querido, a todas as pessoas, a família e aos amigos verdadeiros que estiveram conosco.
Beijos, me abracem?
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